FOTOREPORTAGEM

Entrevista a Luísa Monteiro

Por: Grethel Ceballos
Vídeo: Albufeira TV

Foi no âmbito da comemoração do Dia Mundial do Teatro (27 de Março) que Albufeira acolheu aquela que foi a segunda edição do Festival Internacional de Teatro.

Mapeado como capital do turismo em Portugal, o Município de Albufeira prima cada vez mais em promover eventos de índole cultural. Marcando assim o panorama artístico-cultural nacional. Albufeira brinda aos seus munícipes e visitantes com novas opções de entretenimento de qualidade.




Fotografia: Vanessa Costa
Elenco e Equipa técnica da Peça Modigliani
(Nuno Pardal, Luís Marreiros, Marco Pedroza, Fernando André, Miguel Martinho Luísa Monteiro; Hélia Guerreiro; Jorge Cabral; Paulo Fernandes, Mónica Cunha)




Como surgiu o Festival Internacional de Teatro de Albufeira?
Surgiu da necessidade de criar em Albufeira um momento onde se celebrasse a arte do palco, de modo a oferecer ao público a possibilidade de escolha entre um variado leque de ofertas.

Quais foram os principais objectivos desta segunda edição? Foram atingidos?
Melhorar em termos logísticos e abarcar todo o tipo de públicos. Sim, foram.

De que forma decorreu o processo de escolha das peças, e os demais eventos que integraram este festival?
Geralmente, vejo muito teatro, aqui e sempre que me desloco para fora do país, às vezes em viagens de fim-de-semana. A escolha recaiu sobre duas variantes: preço e qualidade.

Qual foi o feedback do público? Como acolheu esta iniciativa?
Superou as expectativas nesta segunda edição. Casa cheia quase todas as noites. Tivemos ainda uma tertúlia em torno da dramaturgia contemporânea e um curso de Dança Renascentista com Maurizio Padovan, um dos mais ilustres mestres da área, no qual participaram 46 pessoas.

Poderia apontar as principais dificuldades na organização de um evento desta envergadura?
Gostaríamos de ter mais recursos financeiros e uma maior envolvência por parte de agentes que apoiassem o evento.

Para além de organizadora é encenadora e guionista de três das peças que integraram o Festival: O turno da Padecida e Dinis no Jardim - O segredo de Choné (peça infantil) e Modigliani (nesta última deu voz a Mãe de Modigliani). Poderia descrever essa experiência e a reacção do auditório em particular à estas peças?
A reacção foi excelente. Para mim, não é uma experiência pioneira. Faço teatro desde os 14 anos de idade e com o tempo, habituámo-nos a trabalhar em todas as áreas, em várias peças em simultâneo. Seduz-me a velocidade dos corpos e das mentes. Também se cria na velocidade que imprimimos ao tempo.

Como organizadora, encenadora, e guionista de que forma vê o panorama artístico - teatral no Algarve e, também, a nível nacional?
Faz-se mais e melhor, há mais público, mas as condições continuam muito precárias para a maioria das companhias. E isso, passa-se aqui e em quase todas os municípios – o de Lisboa incluído, porque também trabalho lá, e as dificuldades não são menores.

Existe uma ideia quase generalizada de que Albufeira é uma cidade exclusivamente de bares e praias, que só “funciona” no Verão. Nota-se que a Câmara de Albufeira tem-se empenhado cada vez mais em mudar o estigma de que esta localidade dá primazia ao Turismo, em detrimento de outras áreas, como a Cultura por exemplo. Como é que o Festival T contribui para esse feito?
Isso é verdade. O Município de Albufeira tem trabalhado arduamente para alterar alguns aspectos quase míticos do nome Albufeira, nomeadamente, de que aqui só há bares, praias, muita cerveja e pessoas em biquini. Não, aqui há massa cinzenta, há muito trabalho e sério, e um empenho extraordinário por parte do Presidente, Desidério Silva, assim por parte dos vereadores, em fazer-se um trabalho estrutural e edificante em diversas frentes da sociedade. A Cultura deu um salto notável desde que Desidério Silva se colocou à frente do Município. Claro que ainda há muitíssimo a fazer nesta área; há, na minha opinião, questões a aprofundar, a necessitarem de um outro olhar, mas sei que está a ser planeado um grande futuro cultural para esta cidade. E isto não é discurso encomendado, é a realidade, reporto-me aos factos. Com o Festival T pretende-se lançar sementes para uma referência teatral, não só aqui, como lá fora. Já temos esse feed-back. Fui contactada por várias companhias daqui, do Brasil, de Espanha e Itália para poderem vir a este Festival. Mas tratava-se de grandes elencos, grandes distâncias, espectáculos muito caros e a verba não chegava. Devagar, para um caminho mais sólido. De resto, ao nível teatral, as coisas estão a mudar um pouco, começa a haver um espírito cultural. É curioso verificar que quando entro com grupos em cafés da cidade, já vou ouvindo, “olha, aqueles são os do teatro” e, regra geral, perguntam sempre de como decorrem os trabalhos cénicos.

Quais são os próximos projectos para o Festival T?
Fazer a festa em todo o município, inundarmos de teatro, a toda a hora, todos os espaços públicos, ao longo de uma semana inteirinha; um pouco como se faz em alguns estados do Brasil, e que é fabuloso. Para Albufeira, anseio algumas novidades, daqui a uns anos, como por exemplo, teatro ao domicílio para aqueles que estão impedidos por razões físicas ou financeiras, de saírem de casa.

Qual é o balanço deste curto, mas bem sucedido percurso do Festival T?
Muito positivo. Anseio repetir.



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Nota Biográfica:


Oriunda de Vila Nova de Famalicão, terra que a viu nascer a doze de Junho de 1968, Luísa Augusta Monteiro Araújo de Sá reside no Algarve desde 1998. Licenciada em Ciências da Comunicação (pela Universidade Fernando Pessoa), pós-graduada em Comunicação e Marketing Político e em Literaturas Românicas – Modernas e Contemporâneas, é ainda doutorada em Literatura Comparada com a tese: O mito de Édipo na obra ficcional de João Gaspar Simões (Universidade Nova). Actualmente prepara o mestrado em Encenação-Teatro.
Durante 17 anos dedicou-se ao jornalismo e publicou artigos literários em variadas revistas. Tem 23 obras de ficção publicadas, entre romance, novela e conto, assim como ensaio e biografia. Algumas destas obras obtiveram prémios literários, como o Prémio Florbela Espanca e o Lions Internacional, entre outros.

Encenou mais de duas dezenas de trabalhos cénicos e actualmente dirige a Companhia de Teatro Contemporâneo e é encenadora residente da Companhia Guizos – Teatro.

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