Os alunos nem sempre sabem aquilo que pretendem seguir, e mesmo que tenham uma ideia precisa não têm noção do que um profissional faz realmente.
Assim, fomos em busca de profissionais de várias áreas da comunicação para dar a conhecer a todos as suas opiniões sobre como é trabalhar. Toma atenção, a seguir pode ser o teu curso..
À conversa com...
Mário Antunes
Jornalista RTP,
Professor UAlg
Que profissão exerce actualmente?
Sou jornalista da RTP, na parte da rádio sobretudo. Os jornalistas da RTP também têm de estar disponíveis para a televisão quando necessário e vice-versa. Chama-se a isto as sinergias. Mas sou sobretudo jornalista da rádio (antena 1). Essa é a minha profissão, fui convidado para dar aulas de jornalismo e de rádio.
Já exercia jornalismo antes de ingressar na universidade?
Já, o curso foi uma necessidade minha. Quando acabei o secundário, não fui colocado naquilo que queria e não fiz logo o meu ensino superior. Mas já era aprendiz de jornalista. Fui trabalhando. Fui um dos estreantes do curso. Entrei no segundo ano de existência do curso.
Acha que o curso contribuiu para o seu futuro?
Acho, por duas razões. Ao contrário do que muitas vezes os alunos acham, quando vão para estágio acham que o mais importante que aprenderam até aquele momento foi o estágio. Só que se imaginarem o que é ir para estágio com o 12ºano vão perceber que não é exactamente a mesma coisa. O curso dá-nos um conjunto de ferramentas práticas e teóricas e de cultura geral que nos ajudam no nosso dia-a-dia. E além do mais, o curso também permitiu que eu agora possa estar aqui a passar os meus conhecimentos para os alunos. Como o curso dá as ferramentas práticas e teóricas, permitiu-me ver outra perspectiva da minha profissão. Não aprendi a ser jornalista com o curso mas ganhei outras perspectivas do jornalismo, a partir de conhecimentos teóricos que fui adquirindo. A prática já tinha, mas houve conhecimentos teóricos que me dêem perspectivas diferentes do dia-a-dia da profissão. E todos os dias estou a aprender.
E na sua vida profissional, fale-nos um pouco do pré e pós universidade.
Comecei numa rádio local. Trabalhei num jornal local, o jornal do fundão. Passei pela TSF durante 1 ano e depois é que ingressei na RTP (estou lá a quase 15 anos). Fiz várias colaborações em jornais, revistas. Entendo que isto é uma área multidisciplinar e que se pode fazer.
Tem alguma dica que possa dar aos estudantes que queiram seguir jornalismo?
1ª Humildade para estarem constantemente a aprender, e este é um problema que os estudantes hoje têm como vão para estágio acham que o estágio é que deu todos os conhecimentos. Os estágios são só uma parcela da profissão. Mesmo depois do estágio é só um princípio. Tudo para trás são ferramentas. Depois é que vai começar. Saber que todos os dias. (Não se acharem melhor). Para aprender com toda agente, com todas as situações.
2ª Terem muita sensibilidade. Um jornalista que não tenha sensibilidade para as várias áreas é muito complicado.
3ªE muita curiosidade, em relação a tudo. É fundamental. Querer saber como é que isto se faz, porquê que é assim, porquê que não é, etc. Querer saber mais sobre tudo. Sobre o mundo.
Houve algum momento que o marcou enquanto jornalista?
Tantos. Ao longo da minha carreira já fiz muita coisa, já estive em muitos lugares. Eu costumo dizer: “A rádio deu-me mais do que eu já dei à rádio”. A rádio permitiu-me ir a sítios que eu jamais poderia pisar se não fosse a rádio. Por esse mundo fora, em situações muito diversas, conflitos, crises, etc. Se não tivesse sido a rádio nunca teria oportunidade de conhecer aqueles países, aqueles sítios e ainda por cima em circunstâncias que nós quando estamos do outro lado estamos a ver e dizemos: eu estava lá. Houve coisas que me marcaram. Às vezes marcam me histórias que podem ser aqui ao pé da porta. Histórias humanas marcam-me muito. Conflitos, guerras, marcaram-me muito. Auto-determinação de Timor leste eu estava lá, marcou-me muito.
Estive na guerra da Jugoslávia, na Bósnia, em África, no 11 de Setembro na América, na Europa por crises laborais. Cada história destas, são muitas histórias e todas elas marcam.
Timor, o ter lá estado quase 2 meses com aquelas pessoas, ainda antes do Timor independente, isso para mim foi..
Ter ido várias vezes à Argélia, o ter visto a evolução daquela situação ao longo do tempo.
Mas pode haver histórias que me marcam aqui na serra algarvia.
Porquê o jornalismo? Sempre foi um gosto ou surgiu por acaso?
Quando eu estava na escola primária eu acho que já dizia que queria ser jornalista. Eu não fui para o jornalismo porque não era bom a outras coisas, nunca experimentei. Desde muito novo que tinha essa curiosidade. Envolver-me em matérias que não dissessem muito respeito à minha idade, à minha geração. Gostava de escrever, as pessoas que liam o que eu escrevia achavam que eu tinha jeito. E foi assim que surgiu o meu primeiro convite para escrever. No jornal do fundão, com um professor que no secundário me deu jornalismo e disse-me que eu devia tentar seguir aquilo.
Participou em alguns projectos relacionados com a universidade?
Com o Canudo, várias entrevistas. Com a RUA, fiz parte de um grupo de pessoas a convite do reitor por já estar ligado ao curso, que planearam a rádio, criaram as condições para a rádio aparecer. A minha contribuição foi muito limitada, há pessoas que ainda estão ligadas à rádio e essas sim, tiveram um papel muito importante. Eu fui uma espécie de um conselheiro para a formação da rádio. Havia alunos que estavam mesmo empenhados e foram chamados alguns professores para dar alguma ajuda, a perceber que rádio poderia ser. Em termos técnicos e de linguagem, como é que isto poderia funcionar, tive nesse grupo de trabalho.
O que tem previsto para o futuro?
Os projectos são todos os dias. Um projecto acabado é apenas o ponto de partida para um novo. Os meus projectos são continuar a ter humildade, curiosidade e sensibilidade e se possível criatividade, que é uma coisa que também se pratica, para dar um início a um novo projecto. Aqui na universidade, estarei cá a dar aulas enquanto me for pedido e enquanto me for possível.
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